dieta da fertilidade

Alimentação durante a gestação

A IMPORTÂNCIA DA BOA ALIMENTAÇÃO NA GESTAÇÃO

O estado nutricional favorável para receber a gestação é consequência direta da qualidade da alimentação da futura mamãe. Além de prevenir as carências nutricionais, as boas práticas alimentares garantem todos os nutrientes necessários para a perfeita evolução da gestação e do bebê e assegurar as reservas biológicas necessárias ao parto, ao pós-parto e à lactação.

A gestação é um período de intensa atividade orgânica, em que todos os sistemas e órgãos sofrem algum grau de adaptação. Nessa fase também ocorrerá a maior demanda nutricional da vida da mulher, devido à velocidade de multiplicação celular para desenvolvimento de novos órgãos e tecidos do bebê, além de outros componentes estacionais.

Do ponto de vista nutricional, a gestação pode ser dividida em duas grandes fases. A primeira é conhecida como fase materna e acontece na primeira metade da gravidez, quando o organismo da gestante se prepara para permitir o desenvolvimento do feto. A segunda metade, chamada de fase fetal, é a fase em que as reservas nutricionais maternas são utilizadas para o desenvolvimento do bebê.

O período gestacional é um período singular na fisiologia da mulher, uma fase em que a nutrição cumpre papel determinante na saúde de mãe e filho.

Desde os anos 1980, repetidos estudos na área materno-infantil evidenciam a relação tanto do estado nutricional materno antes da gestação quanto do ganho de peso gestacional com o crescimento fetal e o peso
da criança ao nascer. Os efeitos são independentes, mas cumulativos, ou seja, estar acima ou abaixo do peso antes da gravidez não é bom, ganhar muito ou pouco peso durante a gravidez também não é bom. Associar ambos os problemas pode ser ainda pior.

Este é um bom momento para corrigir uma confusão muito comum de conceitos. O ganho de peso recomendado não é o mesmo para todas as mulheres, devendo ser individualizado de acordo com o estado nutricional pré-gestacional. Dependendo do peso pré gestacional da mulher, não é necessário nem importante ganhar peso no primeiro trimestre gestacional, aliás é muito comum que nessa fase aconteça perda de peso dependendo das manifestações gestacionais, como náuseas, vômitos, inapetência e etc. Mulheres que estão acima do peso ideal e já consomem mais calorias que as suas necessidades diárias, o correto é adequar o consumo alimentar, e não acrescentar mais calorias a uma alimentação já inadequada. Este comportamento leva a um agravamento do sobrepeso ou da obesidade com suas repercussões na gravidez e na saúde da criança, devendo ser desencorajado. Não há problemas, muito pelo contrário, em ganhar menos de 10 kg se a mulher apresentar excesso de peso antes da gestação.

PROGRAMAÇÃO METABÓLICA

Não é novidade a importância da alimentação para a saúde humana, mas a grande descoberta dos últimos tempos é a influência da alimentação materna no período gestacional sobre a saúde dos indivíduos até a vida adulta.

Ao contrário do que muitos acreditavam, não apenas a desnutrição ou restrições alimentares durante a gestação podem afetar a saúde do indivíduo. O ganho excessivo de peso durante a gestação também pode ser prejudicial, e muito, para a saúde do bebê e, posteriormente, da criança anos mais tarde.

Estudos epidemiológicos têm observado que a saúde do adulto pode ser um reflexo das práticas alimentares às quais ele foi exposto durante sua vida intrauterina. Ao desenvolvimento embrionário das vias metabólicas
e hormonais, influenciados pela alimentação materna, dá-se o nome de programação metabólica.

O processo de programação metabólica sugere que o estado nutricional materno e a alimentação durante a gestação exercem efeitos decisivos sobre o metabolismo, composição corporal e sobre a fisiologia do bebê. Para sempre.

A má alimentação, o ganho excessivo de peso materno ou fetal, complicações gestacionais, exposição a algumas substâncias e outras práticas pouco adequadas durante a gestação são capazes de interferir no desenvolvimento do bebê, aumentando a predisposição a algumas doenças na fase adulta, como obesidade, diabetes, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, dislipidemias, entre outras.

O ganho excessivo de peso do bebê na fase intrauterina está associado a um risco maior de sobrepeso e obesidade na vida adulta, bem como suas complicações; porém o inverso também é prejudicial. Este parece ser um dos componentes importante para que um indivíduo tenha tendência a engordar ou emagrecer.

Porém, mesmo que a criança seja exposta a um ambiente intrauterino desfavorável, é possível que nenhuma consequência se manifeste, mas isso dependerá dos hábitos adquiridos na primeira infância, outro período crucial do desenvolvimento humano. A prática do aleitamento materno pode prevenir o desenvolvimento de algumas doenças, pois além de nutrir adequadamente o bebê, o leite materno confere papel protetor contra algumas doenças na infância e na vida adulta, entre elas a obesidade, porém seus efeitos positivos estão intimamente ligados ao tempo do aleitamento e, portanto, é fundamental garantir o mínimo de 6 meses de leite materno exclusivamente aos bebês.

Dessa forma, uma boa alimentação neste período tem impacto em toda a vida dos filhos. Alimentar-se de forma consciente e responsável é um dos primeiros atos de amor que uma mãe pode dedicar ao seu filho.

GESTAÇÃO ÚNICA

É indiscutível que as demandas energéticas, e por consequência alimentares, são maiores durante a gravidez, o que não significa que a alimentação deva ser hipercalórica. Nem todas as refeições precisam ser especiais ou diferentes; na maioria das vezes, é mais importante priorizar a qualidade dos alimentos e não apenas o sabor. A gravidez não é o momento para comer o que se quer ou satisfazer todos os desejos de futura mamãe. Além da qualidade, é importante conhecer a quantidade necessária para cada gestante. E, que fique claro, não é preciso nem saudável comer por dois!

As alterações fisiológicas da gestação resultam no aumento da taxa de metabolismo basal da mulher, podendo representar um acréscimo de até 20% ao seu gasto energético total. Cerca de 60% desse aumento ocorre no terceiro trimestre gestacional, quando o gasto calórico para formação dos tecidos fetais é maior. Isso significa dizer que o aumento da ingestão calórica é mais importante no segundo e terceiro trimestre, quando as necessidades calóricas são efetivamente maiores. No primeiro trimestre não há ganho significativo de peso dos compartimentos gestacionais (útero, placenta, sangue e etc) nem do bebê, portanto o controle alimentar deve ser mais rigoroso até a 12a. semana gestacional.

A glicose é a única fonte de energia utilizada pelo feto, e esta é a ele transferida através da placenta. Ao contrário de nós, que temos a capacidade de utilizar gorduras, em alguns casos, e até proteínas como fontes de energia, o feto se utiliza apenas de glicose. Por essa razão, é muito importante que a gestante adquira o hábito de realizar refeições a cada 3 horas, de modo a evitar oscilações dos níveis sanguíneos de glicose. Inúmeras transformações ocorrem no metabolismo feminino durante a gestação, e essas mudanças promovem o aumento do estoque de aproximadamente 3 kg de gordura, especialmente entre a 10a e a 30a semana gestacional. Além do depósito de tecido adiposo no organismo materno, há também um acúmulo de proteínas e, na segunda metade da gestação, esse depósito passa a ocorrer também no organismo do bebê.

O ganho de peso gestacional, quando adquirido de forma lenta e esperada para cada trimestre, é saudável. O peso adquirido ao longo das 40 semanas não é proveniente apenas do bebê, mas também de outros compartimentos específicos da gestação. O peso desses compartimentos, que juntos justificam o ganho de peso materno, estão listados no quadro a seguir:

Distribuição de ganho de peso materno durante a gestação
Bebê
Placenta e cordão umbilical
Útero
Líquido amniótico
Reserva materna de nutrientes
Tecido mamário
2,5 a 4 kg
0,5 kg
0,7 kg
0,6 kg
3,0 kg
0,4 kg

Adaptado de Fagen, 2002.

GESTAÇÃO DE GÊMEOS

A abordagem nutricional adequada é fundamental durante a gestação, porém o cuidado deve ser ainda maior quando a gestação é de múltiplos bebês. Uma vez que esse tipo de gravidez oferece uma série de desafios, tanto para as mães quanto para os profissionais de saúde, o número de pesquisas na área e o interesse por recomendações nutricionais específicas para o período têm aumentado significativamente.

Nos Estados Unidos, houve um aumento de 30% no número de gestações gemelares, decorrentes principalmente das práticas de reprodução assistida. No Brasil, esses números também aumentaram. A quantidade de gestações de múltiplos passou de 38.465 em 1996 para 53.260 em 2004.

As gestações de gemelares são divididas em três períodos gestacionais, diferente das gestações únicas, em que a divisão se dá por trimestres. São eles:

• até a 20a semana;
• da 20a à 28a semana;
• da 28a semana em diante.

Durante a gestação de gêmeos o volume sanguíneo materno aumenta cerca de 50% a 60% contra 40% a 50% nas gestações únicas. Esse aumento promove a diminuição dos níveis de hemoglobina, glicose, albumina, proteínas e algumas vitaminas. Ocorre também um aumento da produção de todos os hormônios envolvidos na gestação, como progesterona e lactogênio placentário, por exemplo. A produção aumentada desses hormônios pode afetar o metabolismo da glicose, aumentando o risco de diabetes gestacional.

Algumas complicações são mais frequentes em gestações de múltiplos e, portanto, requerem acompanhamento multiprofissional contínuo.

Dentre as múltiplas complicações, a mais frequente é o parto pré-termo, ou seja, antes da 37a semana gestacional. Além disso, a chance dos bebês nascerem abaixo do peso ideal também é maior quando comparada com a de bebês de gestações únicas.

Nas gestações únicas, o peso médio dos bebês é de 3.332 g, e a média da idade gestacional no momento do parto é de 38,8 semanas. Já nas gestações de gêmeos, o peso médio dos bebês é de 2.347 g, e a idade gestacional é de 35,3 semanas.

Para as gestações de gêmeos, recomenda-se uma ingestão dietética adicional, mas esse acréscimo dependerá do estado nutricional prévio à gestação, ou seja, será necessário avaliar individualmente cada gestante e determinar um necessidade calórico-proteica total diária baseada no peso antes da gestação e na ingestão alimentar de cada mulher.

O estado nutricional da gestante interfere diretamente na evolução da gravidez, no desenvolvimento dos fetos e nos seus pesos ao nascerem. A alimentação apresenta um papel reconhecidamente relevante na evolução da gestação de múltiplos devido ao intenso processo de formação de órgãos e tecidos e dos ajustes fisiológicos da gestante em um curto espaço de tempo e, portanto, deve ser completo e adequado para suprir as necessidades materno-fetais durante todo esse processo.

A partir de um modelo nutricional utilizado por diferentes pesquisadores sugere-se a implementação de uma dieta de aproximadamente 3.000 kcal distribuídas em seis refeições por dia, no mínimo. Recomenda- se também a suplementação de vitaminas e minerais por meio de polivitamínicos específicos para a gestação.

GESTAÇÃO DE TRÊS OU MAIS BEBÊS

As gestações múltiplas têm uma incidência relativamente baixa na população que engravida por vias naturais. As estatísticas demonstram um caso em cada 80 nascimentos no caso de gestação dupla, uma em 6.400 no caso de trigêmeos e uma em 512.000 nos casos de quadrigêmeos. Entretanto, esta frequência aumentou nos primeiros 20 anos após a chegada do primeiro bebê de fertilização in vitro, realizado em Bristol, na Inglaterra. Louise Brown nasceu em 25 de Julho de 1978. Observou- -se neste período um grande aumento das gestações múltiplas, em decorrência do exagero do número de embriões transferidos para o útero após a fertilização.

Esta era passou, pois nos últimos anos, com o avanço das técnicas dos tratamentos e a imposição de algumas regras éticas do Conselho Federal de Medicina (CFM), os resultados tornaram-se melhores mesmo com a diminuição do número dos embriões colocados no útero. Esta imposição define um número máximo de embriões a serem transferidos baseados na idade da mulher. Assim mesmo, existem casos isolados de trigêmeos em decorrência de alguns excessos pela individualização dos tratamentos, não sempre por culpa do médico, mas pela exigência de algumas condições de cada paciente, como a idade ou número de fracassos
em tratamentos anteriores.

As necessidades nutricionais para mulheres grávidas de três ou mais bebês são maiores, já que ocorre um rápido escoamento de nutrientes acompanhado de uma acelerada diminuição das reservas nutricionais maternas. O número de bebês é um dos fatores mais importantes para definir os objetivos do plano alimentar da gestante de múltiplos.

O peso pré-gestacional da mulher é outro fator que merece atenção especial. Mulheres que pretendem passar por tratamentos de fertilização ou com histórico de gêmeos na família materna devem se preocupar com seu estado nutricional e procurar atingir seu peso ideal antes mesmo de engravidar.

A gestação de múltiplos implica não apenas no aumento do consumo de proteínas e calorias, mas também de vitaminas e minerais. Gestantes de múltiplos não devem seguir o mesmo esquema alimentar que gestantes
de bebês únicos. O ganho de peso adequado está associado ao bom prognóstico da gestação, e o cuidado com a alimentação é o fator mais importante para que esse objetivo seja alcançado.

Até o momento, não foram estabelecidas metas de ganho de peso total para gestante de triplos ou mais bebês, e as referências para ganho de peso de gêmeos também são provisórias. Por essa razão, é fundamental que as gestantes de dois ou mais bebês sejam avaliadas por um especialista que determine suas necessidades nutricionais, bem como seu ganho de peso ideal, para que o suporte diário seja adequado e suficiente.

Faixa de ganho de peso total para gestantes de acordo com a classificação do IMC pré-gestacional e número de bebês:  

Gestão Baixo Peso Peso Adequado Sobrepeso Obesidade Idade gestacional (semanas)
Única 12,1 – 18,1 kg 11,3 – 15,8 kg 6,8 – 11,3 kg 4,9 – 9 kg 38-41
Dupla ND* 16,7 – 24,4 kg 14,0 – 22,6 kg 11,3 – 19 kg 36-38
Tripla ND* 22,6 – 27,2 kg ND* ND* 32-36

ND*: Não determinado até o momento (2012).
Fonte 1: IOM, 2009
www.iom.edu/pregnancyweightgain.
Fonte 2: Triplet pregnancies and their consequences, 2002.

Estudos têm mostrado que a adequação do peso e até mesmo o ganho de peso, em alguns casos, no período pré-concepcional pode favorecer as gestações múltiplas por duas razões:

1- as gestações triplas são, em média, significativamente mais curtas que as únicas, pois o parto geralmente ocorre antes do período de aumento no peso fetal;

2- o aumento do peso na fase inicial da gestação pode favorecer o desenvolvimento estrutural e funcional da placenta, contribuindo com o crescimento do feto através da transferência mais efetiva de nutrientes.

Por essas razões, o ganho de peso durante a gestação de múltiplos deve ser cuidadosamente monitorado, pois tanto o ganho insuficiente quanto o ganho excessivo interferirão na saúde da mãe e dos bebês.

Contudo, é importante ressaltar que a gestante que ganha peso a partir de uma dieta equilibrada e desenvolvida de acordo com as suas necessidades jamais se tornará obesa. O ganho de peso durante a gestação é inevitável, e a dieta consumida deve ser capaz de fornecer a quantidade suficiente de calorias e nutrientes para esse período, porém, até hoje, não existem recomendações nutricionais científicas específicas para gestações de múltiplos. De acordo com nossas experiências e algumas pesquisas realizadas até o momento, recomendamos que as gestantes de dois ou mais bebês consumam o equivalente a 50% a mais sobre as recomendações diárias para gestantes de únicos.

Para isso, basta seguir um plano alimentar desenvolvido para cada necessidade, elaborado por um especialista, e realizar avaliações periodicamente para monitoramento da ingestão e ganho de peso total.

NECESSIDADES NUTRICIONAIS GESTACIONAIS

NECESSIDADES ENERGÉTICAS

A mulher adulta, saudável e não grávida necessita consumir entre 25 e 30 kcal/kg de peso corporal por dia para suprir suas necessidades diárias e manter seu peso.

Durante a gestação única, são consumidas aproximadamente 80.000 kcal na formação do bebê e dos mecanismos de adaptação do organismo materno, o que representa um acréscimo entre 300 e 400 kcal/dia. A necessidade calórica total gira em torno de 35 a 40 kcal/kg/dia durante o período gestacional, geralmente acrescidos no início do segundo trimestre (após a 12a semana). Não é necessário aumentar a ingestão calórica
no primeiro trimestre de gravidez.

Já na gestação de múltiplos. essa necessidade é maior. Esse aumento pode representar uma média de 35.000 kcal a mais até o final da gestação, ou seja, um acréscimo de cerca de 400 a 550 kcal/dia, e esse valor vai depender do peso da mulher prévio à gestação e do número de bebês gerados.

Pelo fato de o Brasil possuir poucas pesquisas para determinação de padrões nutricionais ideais para gestantes, serão aqui utilizados os padrões americanos do IOM – Institute of Medicine. Além de serem utilizados no mundo inteiro, são também os mais atualizados e aqueles que têm como base os hábitos alimentares ocidentais. Vale frisar que o padrão nutricional do brasileiro, com a mudança do perfil econômico do País, vem se tornando cada vez mais próximo do padrão americano. Infelizmente.

NECESSIDADES DE CARBOIDRATOS

Os carboidratos são a primeira fonte de energia para adultos e a mais importante fonte de energia para o bebê durante a gestação.
O consumo adequado de carboidratos durante a gestação previne episódios de hipoglicemia, ou queda súbita de glicose sanguínea. O jejum prolongado na gestação pode levar ao aumento de uma substância chamada prostaglandina, e esta parece estar associada a um aumento do
risco de parto prematuro.

Além disso, dependendo das fontes de carboidratos disponíveis na alimentação, eles fornecem boas doses de nutrientes e fibras, presentes principalmente nos carboidratos complexos.
Os carboidratos complexos, ou integrais, são ricos em fibras e favorecem a absorção de água no intestino contribuindo com o bom funintestinal. A obstipação é um problema muito frequente e incômodo para gestantes. Carboidratos simples, ou refinados, são pobres em nutrientes e fibras, ricos em calorias pouco aproveitáveis durante a gestação e podem contribuir com quadros de obstipação intestinal na gestação.

Dada a oportunidade, privilegie sempre o consumo de carboidratos integrais. Massas, pães, bolos, arroz, pizzas, torradas, biscoitos, pratos em restaurante e até salgados em lanchonetes podem ser facilmente encontrados hoje em dia na versão integral. Em outros países a oferta e variedade desses produtos é ainda maior, ou seja, as opções, cada vez mais variadas e saborosas, continuarão a aumentar.
Felizmente!

NECESSIDADES PROTEICAS

As proteínas representam um dos macronutrientes mais importantes durante o período gestacional. Elas são formadas por aminoácidos, também conhecidos como peptídeos, que representam a menor unidade na constituição de uma proteína. As proteínas são responsáveis pela formação de órgãos, tecidos, sangue, ossos, células nervosas e outras estruturas.

Os aminoácidos participam também da síntese de enzimas, hormônios e anticorpos, importantes para todos os processos vitais do organismo.

Durante a gestação, as proteínas são importantes para a formação da placenta, para o aumento das mamas, dos tecidos uterinos, do volume sanguíneo e, obviamente, para a formação do bebê. Cerca de 1.000 gramas de proteína são sintetizadas para a formação de cada bebê e de compartimentos gestacionais (500 g são depositadas no feto, 60 g na placenta e 440 g no corpo da gestante).

Uma mulher adulta e saudável, quando não grávida, necessita diariamente de 0,8g a 1,0 g de proteína por quilo de peso. As recomendações dietéticas variam muito entre os estudos encontrados e ainda não existe um consenso, porém, a maioria dos autores sugere uma ingestão proteica de 1,2 g/kg/dia (72 g para uma mulher de 60 kg grávida de um bebê) até 2,2 g/kg/dia, em casos de gestações múltiplas (132 g de proteína/dia para o mesmo exemplo, porém, à espera de gêmeos).

NECESSIDADES DE GORDURAS

As gorduras, ou lipídeos, são nutrientes essenciais responsáveis por inúmeras funções na gestação, como transporte de vitaminas lipossolúveis, produção de hormônios maternos, fornecimento de energia e formação do sistema nervoso e ocular do bebê.

Alguns compostos importantes dos lipídeos, também conhecidos como ácidos graxos, são fundamentais durante todo o período gestacional e, por não serem sintetizados pelo organismo, devem ser obtidos através da alimentação.

A ingestão adequada de ácidos graxos, especialmente ômega 3, pode trazer inúmeros benefícios para mãe e bebê. O consumo regular dessas gorduras pode prevenir a incidência de parto prematuro, reduzir o risco de pré-eclampsia (aumento súbito da pressão arterial durante a gestação) e favorecer o perfeito desenvolvimento do sistema nervoso do bebê.

NECESSIDADE DE FERRO

O ferro é um mineral necessário para o desenvolvimento placentário e fetal e para garantir a formação da hemoglobina presente nos glóbulos vermelhos maternos. O aumento da concentração dessas células é importante para o transporte adequado de oxigênio para o feto (via placenta) durante toda a gestação, transporte este realizado pela hemoglobina.

O ferro é um mineral necessário para o desenvolvimento placentário e fetal e para garantir a formação da hemoglobina presente nos glóbulos vermelhos maternos. O aumento da concentração dessas células é importante para o transporte adequado de oxigênio para o feto (via placenta) durante toda a gestação, transporte este realizado pela hemoglobina.

NECESSIDADES DE OUTROS MICRONUTRIENTES

Além do ferro, outros minerais como cálcio, magnésio, zinco, selênio, folato, iodo, entre outros, têm sua demanda aumentada durante a gravidez. Sendo assim, a necessidade de adequar o consumo alimentar também é maior. O cálcio, por exemplo, é necessário para o desenvolvimento do esqueleto do feto e para a manutenção das reservas maternas, já que nos casos de deficiência nutricional o cálcio é retirado dos ossos maternos, privilegiando a formação do bebê.

Embora não seja necessário suplementar estas substâncias em mulheres bem nutridas, sua reposição parece trazer bons resultados fetais (redução do número de bebês com baixo peso) em mulheres subnutridas.
Portanto, para a escolha de quem deve ou não receber suplementação, faz-se necessário o diagnóstico nutricional da gestante e a adequação da dieta, primeiramente.

O requerimento exato de vitaminas e minerais para gestantes de múltiplos não foi estabelecido até o momento, porém, o profissional responsável deve avaliar a ingestão dietética de cada gestante com o objetivo de determinar as necessidades diárias e uma possível suplementação multivitamínica.

Minerais: necessidades e funções biológicas na gravidez
Minerais Necessidade diária Funções biológicas
  NG* G** L***  
Cálcio (mg) 800 1.200 1.200 Metabolismo ósseo; integridade funcional de músculos e nervos; coagulação sanguínea
Iodo (micro) 150 175 200 Síntese de hormônios
tireoidianos
Ferro (mg) 3 4 3 Síntese de hemoglobina e mioglobina; oxidação e redução de enzimas; citocromos
Zinco (mg) 15 20 25 Integra enzimas diversas; síntese de RNA e DNA
Magnésio (mg) 300 450 450 Transmissão neuroquímica e Transmissão neuroquímica e excitabilidade muscular; cofator de enzimas de fosfato em reações que utilizam ATPexcitabilidade muscular; cofator de enzimas de fosfato em reações que utilizam ATP

*NG: Não grávida **G: Grávida ***L: lactante

NECESSIDADES DE VITAMINAS

Quando a dieta da gestante é equilibrada e a gestação transcorre sem anormalidades, não há razão para grandes alterações dietéticas. Além disso, é parte do protocolo obstétrico a suplementação vitamínica para assegurar o aporte adequado no momento em que as necessidades de todos os nutrientes está aumentada.

O consumo de ácido fólico duplica na gestante, porém sua deficiência é pouco comum, devido à sua abundância em inúmeros alimentos. Ainda assim, mesmo em pacientes com ingestão adequada, recomenda- se a suplementação de 400 a 800 mcg de ácido fólico desde ao menos 30 dias antes da concepção programada até a 12a semana de gestação, com o objetivo de reduzir os defeitos de fechamento do tubo neural.
A necessidade de vitamina D também aumenta muito na gravidez, variando entre 400 a 800 UI. O consumo deve ser estimulado através do aumento via alimentação. Como o metabolismo de vitamina D depende da exposição solar, recomenda-se que gestantes se exponham ao sol da manhã por, no mínimo, 15 minutos diários (antes das 10h ou após as 16h). Caso a avaliação nutricional não seja realizada, é prudente suplementar. Convém dizer que o excesso de vitamina D é prejudicial para o binômio mãe-filho por aumentar a concentração sanguínea de cálcio.

A deficiência de vitamina A é um problema de saúde pública em países subdesenvolvidos, mas também pode estar presente em países com renda.

Caso o consumo de vitamina A via alimentação durante a gravidez garanta a necessidade diária, o que não é difícil, não é necessário suplementar, pois o consumo excessivo de vitamina A é facilmente estocado, podendo ser prejudicial ao bebê.

Vitaminas: necessidades e funções biológicas na gravidez
Minerais Necessidade diária Funções biológicas
  NG* G** L***  
B1
tiamina (mg)
1 1,4 1,4 Coenzima no metabolismo dos carboidratos; moduladora da transmissão neuromuscular
B2 riboflavina (mg) 1,2 1,5 1,7 Coenzima na respiração e oxidação tecidual e no metabolismo proteico energético
B3 niacina (mg) 13 15 18 Composição das coenzimas NAD e NADP; participa na respiração tecidual
B6 piridoxina (mg) 2 4,5 * Coenzima em reações de transformação dos aminoácidos
B9 ácido
fólico (micro)
400 800 500 Cofator na síntese de DNA - metabolismo das purinas
B12 cobalamina (micro) 3 4 4 Cofator na síntese de DNA

Vitaminas: necessidades e funções biológicas na gravidez
Minerais Necessidade diária Funções biológicas
  NG* G** L***  
Vitamina C (mg) 60 80 100 Síntese de colágeno e de esteroides; reações de oxidação
Vitamina A (retinol eq.) 800 1.000 1.200 Acomodação visual no escuro; crescimento ósseo; reprodução; desenvolvimento fetal
Vitamina D (micro) 5 10 10 Metabolismo do cálcio
Vitamina E (tocoferol eq) 8 10 10 Antioxidante
Vitamina K 400 800 500 Cofator na síntese de DNA - metabolismo das purinas
B12 cobalamina (micro) Produzida pela flora
intestinal
Síntese de fatores da coagulação

*NG: Não grávida **G: Grávida ***L: lactante

Palavra do IPGO
A melhor forma de adquirir todos os nutrientes necessários para uma gestação tranquila e saudável é através de uma alimentação rica e variada. Os alimentos mais indicados para o período gestacional estão apresentados na tabela a seguir, bem como suas principais características nutricionais.

Alimentos importantes para a gestante
Grupo Alimento Características nutricionais
Frutas Abacate Contém ácido fólico, que previne a malformação do feto e afasta o risco de abortos e partos prematuros.
Acerola e abacaxi Ricas em vitamina C, que facilita a absorção do ferro pelo organismo, mineral
fundamental para a formação das células sanguíneas do bebê.

Alimentos importantes para a gestante
Grupo Alimento Características nutricionais
Frutas Banana Fruta rica em carboidratos e potássio.
Possui ainda vitaminas A, C e do complexo B, cálcio, zinco, fósforo, sódio e uma pequena quantidade de ferro.
  Caqui Fonte de vitaminas A, C e do complexo B, sódio, potássio e fibras. Possui também fósforo, magnésio, cálcio e ferro.
  Laranja, mexerica e
maracujá
Frutas ricas em fibras e vitamina C. Fonte de ácido fólico, vitaminas A e B, cálcio, ferro, potássio, sódio, fósforo e magnésio.
  Maçã Fonte de carboidratos, vitaminas A, C e do complexo B, fósforo, sódio, potássio e cálcio.
  Mamão Fruta fonte de fibras, cálcio, fósforo, ferro, sódio, potássio, vitaminas A, C e do complexo B.
  Melão e melancia Frutas ricas em vitaminas A, C e do complexo B, cálcio, fósforo, potássio e sódio.
  Pera Fruta fonte de fibra e potássio e, em menor quantidade, cálcio, fósforo, sódio, ferro, vitaminas C e do complexo B.
  Uva Fonte de fibras e outros carboidratos. Fruta rica em vitaminas A, C e do complexo B, sódio, potássio, cálcio, fósforo e uma pequena quantidade de ferro.
  Agrião e rúcula Verduras ricas em vitaminas C, A e do complexo B, iodo, cálcio, fósforo, ferro, sódio e fibras.
  Abobrinha Fonte de minerais como fósforo, cálcio e ferro, além de pequenas quantidades de vitamina A e do complexo B.

Alimentos importantes para a gestante
Grupo Alimento Características nutricionais
  Brócolis Possui boas doses de ferro, fósforo, cálcio, vitaminas A, C e do complexo B.
  Couve-flor Fonte de vitaminas A, C e do complexo B, cálcio, fósforo e ferro.
  Abóbora, cenoura Fontes de vitaminas do complexo B, cálcio e fósforo.
  Espinafre, couve
escarola
Fonte de ferro, fósforo, magnésio, vitaminas A, C e do complexo B.
  Tomate e pimentões amarelo e vermelho Fonte de vitaminas A (carotenos), licopenos e C.
Tubérculos Batatas em geral, batata-doce, mandioquinha, cará e mandioca Grupo de alimentos rico em carboidratos. Fontes de vitaminas do complexo B, cálcio, fósforo, ferro e potássio.
Leite e derivados Iogurte Alimento de fácil digestão, que auxilia na manutenção do sistema imunológico.
  Leite Fonte de cálcio, magnésio, fósforo, riboflavina,
vitaminas B12 e D e zinco.
  Queijos Proteína de alto valor para o organismo; Alimento fonte de cálcio, iodo, magnésio, fósforo, potássio, vitaminas A, B12 e D e riboflavina.
Proteínas animais e
vegetais
Tofu Alimento fonte de proteínas, cálcio, fósforo e vitamina A.
  Proteína texturizada de soja Proteína de alto valor. Fonte de cálcio, ferro e vitaminas A e D.
  Feijões, ervilhas, lentilha, grão-de-bico Fonte de cálcio, ferro e vitaminas A, B12 e D.Grupo de alimentos rico em proteínas, ferro, fósforo, cálcio, fibras e vitaminas do complexo B.

Alimentos importantes para a gestante
Grupo Alimento Características nutricionais
Proteínas animais e vegetais Ovos Proteína de alto valor. Fonte de biotina, cromo, fósforo, vitaminas A, B6 e D e zinco.
  Pescados Proteína de alto valor. Fonte de zinco, cálcio, niacina, ômega-3, riboflavina e vitaminas A e B12.
  Frutos do mar Proteína de alto valor, pobre em gordura. Fonte de cálcio, cobre, iodo, manganês e vitamina D.
  Carnes e aves Grupo de alimentos fonte de proteínas de alto valor biológico. Excelente fonte de vitaminas do complexo B, ferro, fósforo, cálcio e sódio.
  Cevada, pão preto, aveia Fonte de ferro, magnésio, manganês, selênio e zinco.
Grãos e cereais Gérmen de trigo Proteínas; fibras; baixo teor de gordura. Fonte de ácido fólico, magnésio, fósforo, tiamina, vitamina E e zinco.
Oleaginosas Castanhas, nozes e amêndoas Gorduras, especialmente mega 3, proteínas e fibras. Fonte de biotina, cobre, magnésio, manganês, piridoxina e zinco.

Para elucidar de forma prática todas essas recomendações, apresentamos o quadro a seguir dividido por grupos alimentares e o número ideal de porções recomendadas para cada tipo de gestação.

É importante lembrar que o tamanho das porções de cada alimento depende do peso e do estado nutricional de cada mulher. Não existe um tamanho padrão! Mulheres de 50 kg não têm a mesma necessidade de mulheres de 70 kg. Para determinação das necessidades nutricionais diárias, bem como volume das porções é necessário uma avaliação nutricional individualizada de cada
gestante, para que seja determinada a quantidade correta de cada alimento.

Porções de alimentos recomendadas para cada tipo de gestação
Grupo NG Grávidas
Leite e derivados
leite
3 Único Gêmeos Triplos
4 5-6 6-8
Legumes
legumes
2 2-3 3-4 4-5
Hortalíças
hortalicas
2 2-3 3-4 4-5
Frutas
frutas
3 3-4 4-6 5-7
Carboidratos (cereais, massas e
tubérculos)
carboidrato
7 8 8-9 9-10
Carnes, peixes, ovos e aves
peixe
2 2,5 -3 3-4 4
Gorduras e Oleaginosas
gorduras
4 4-5 6 4
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