dieta da fertilidade

Alimentos que nutrem a fertilidade

Dr. Mauro Tarandach
O objetivo deste capítulo é elucidar os principais pontos sobre a importância e a influência de uma alimentação saudável, livre de agrotóxicos e de outros produtos químicos, na fertilidade. As escolhas mais seguras devem englobar não somente os tipos de alimentos que ingerimos, mas também como foram produzidos, armazenados e preparados.

ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL – O QUE É?

Nos outros capítulos foram citados muitos alimentos e nutrientes que podem ajudar no processo de reprodução. Aqui, abordaremos a importância da origem e da qualidade desses alimentos.

Bastante se fala sobre os benefícios da alimentação saudável e equilibrada. Mas muitas pessoas ainda desconhecem ou confundem seu significado.

A alimentação saudável é o ato de comer de forma equilibrada. Ao longo de nossa vida, as necessidades nutricionais modificam-se e sofrem alterações. Em especial durante a gravidez, os cuidados devem ser redobrados, de forma a fornecer à mãe e ao bebe todos os nutrientes necessários para manter a saúde materna, para prepará-la para a amamentação e principalmente
para proporcionar um desenvolvimento adequado ao bebê.

OS ALIMENTOS DIET E LIGHT, ORGÂNICOS E INTEGRAIS

Muitos acreditam que ao ingerir alimentos diet ou light estão fazendo uma dieta saudável. Pode ser que não. Estes alimentos foram modificados e somente devem ser consumidos durante a gravidez sob a indicação de um médico ou nutricionista. Nos alimentos diet, retira-se da composição algum tipo de nutriente: carboidratos, gorduras, proteínas ou sal. Já nos alimentos light ocorre uma redução de pelo menos 25% da quantidade de um determinado nutriente. Na maioria dos casos, o objetivo é reduzir as calorias em relação ao alimento tradicional. O alimento considerado “light”, que em português quer dizer “leve”, é o mais indicados para se inserir numa dieta de emagrecimento com redução calórica. Dessa maneira, a principal diferença entre o alimento diet e light está na quantidade permitida de nutrientes. Mas talvez a confusão mais frequente seja com relação a alimentos orgânicos e integrais. Alimento integral é aquele que não teve sua estrutura modificada no processo de industrialização e manteve as vitaminas, minerais e fibras. Já no alimento orgânico é tomado um cuidado maior.
Eles são oriundos de um manejo orgânico do solo e dos animais e, durante todo o processo de produção, ficam livres de quaisquer produtos nocivos à saúde.

Um alimento pode ser orgânico e não ser integral e vice-versa. Portanto, podemos ter um pãozinho francês feito com ingredientes convencionais (farinha branca convencional e químicos) ou o pão francês branquinho e orgânico, em que a farinha empregada está isenta de agrotóxicos, assim como todos os demais ingredientes são naturais. Por outro lado, temos o pão integral convencional, em que apesar da farinha ser integral, o trigo foi plantado com agrotóxicos e ainda podem ter siso utilizados agentes químicos durante o processo de produção.
A melhor escolha é comer um pão integral orgânico – mas não seria nenhum pecado comer um pãozinho francês orgânico. Procure em padarias especializadas e confira a diferença de sabor entre o pão fresco convencional e o orgânico.

O QUE SÃO ALIMENTOS ORGÂNICOS?

Há alguns anos comecei a me interessar mais profundamente pela produção de orgânicos e comecei a introduzir o assunto em consultório. Fiquei surpreso ao notar que naquela ocasião a grande maioria dos pacientes não tinha noção do que eu estava falando. E não eram só eles. A confusão era geral. Um dia, ao entrar em uma grande loja de hortifrúti, na zona sul de São Paulo, procurei por algum tipo de produto orgânico e, como não encontrei nenhum, chamei o gerente e perguntei se aquele mercado trabalhava com orgânicos. Ele respondeu: “Sr., aqui tudo é orgânico!”.

Depois de uma rápida conversa e de explicações, encontramos um único e solitário cacho de banana com o selo de orgânico e, ainda assim, sem certificação. Hoje a realidade é outra. Este mercado cresce, apenas no Brasil, cerca de 30% ao ano. Isto se deve a uma nova consciência por parte dos consumidores, ao aumento de produtores e à incidência cada vez maior de doenças.

Os alimentos orgânicos são aqueles que têm como base do processo produtivo os princípios agroecológicos, que contemplam o uso responsável de solo, água, ar e demais recursos naturais. Este processo de produção
respeita o meio ambiente e visa a qualidade do alimento e a qualidade de vida das pessoas envolvidas. A premissa básica é que não sejam usados agrotóxicos (produtos tóxicos = venenos) nem qualquer outro tipo de produto que possa vir a causar algum dano à saúde do homem e de seus descendentes. Para o combate a pragas e para a fertilização do solo, são utilizados apenas sistemas naturais de controle (homeopatia, iscas naturais, biofertilizantes autorizados pelo Governo Federal). Neste processo, a qualidade (pureza) da água utilizada é fundamental. Trataremos do assunto mais adiante.

Mas o conceito de agricultura orgânica vai muito além da não utilização de venenos. É um sistema de vida. É proibida a utilização de mão de obra infantil. Todos os agricultores devem ser remunerados de forma justa, seguindo as leis trabalhistas vigentes. Não existem os chamados “boias frias”, pessoas que moram na cidade e vão para o campo apenas para trabalhar. O retorno do homem ao campo como forma de vida é incentivado, e para isto são oferecidas condições adequadas para que ele possa ter uma vida digna junto à sua família. O mais importante é o retorno do respeito do homem pela terra. Isso faz com que os alimentos sejam produzidos com muito mais amor, refletindo na qualidade do que consumimos.

Aspecto nutricional

Frutas, legumes, verduras, tubérculos, grãos, condimentos e ervas.
Recente pesquisa divulgada na Inglaterra relatou que alguns alimentos orgânicos apresentam praticamente as mesmas propriedades nutricionais dos alimentos chamados “convencionais”. Isto é verdade. Porém, foram avaliadas a composição de minerais e vitaminas, mas não a quantidade de venenos existentes. É como se fechassem os olhos para um problema que começa a ser de saúde pública. No âmbito caseiro, a questão é simples: o tomate que você compra, seja ele convencional ou orgânico, terá a mesma composição nutricional. Mas um deles foi comprovadamente produzido com veneno, e o outro não. Qual você prefere dar ao seu filho? Faça a sua escolha. Polêmicas à parte, os alimentos orgânicos apresentam a vantagem de serem mais saudáveis, pois além do fato de não possuírem venenos, eles são naturalmente mais ricos em substâncias que equilibram nosso organismo. Assim como nos animais, as plantas possuem células, tecidos, sistema respiratório e reprodutor. No sistema orgânico, as plantas são mais saudáveis naturalmente, portanto, nos fornecem mais nutrientes. Na agricultura convencional, a saúde da planta é mantida às custas do uso excessivo de produtos químicos. Imagine uma pessoa que somente consegue ficar livre de uma infecção enquanto estiver tomando antibiótico. Quando ela para de tomar, a infecção muitas vezes pode voltar. Neste caso, a principal hipótese levantada é de que esta paciente tem algum problema de imunidade.
Pois é exatamente isso que ocorre na agricultura convencional. As plantas somente sobrevivem se forem usados agrotóxicos, e a terra onde são produzidas, devido à exploração inadequada, não oferece mais os nutrientes necessários à sua saúde.

Por fim, os alimentos orgânicos também são muito mais saborosos. Faça um teste: experimente fazer um creme de tomate orgânico e outro convencional. Coloque uma venda nos olhos e tente diferenciar um do outro. Você conseguirá notar a diferença no sabor e provavelmente sentirá o gosto amargo do veneno.

Carne orgânica, peixes e ovos orgânicos.
Os animais orgânicos são criados sem a aplicação de antibióticos, hormônios e anabolizantes. Pesquisas demonstram que estes produtos podem provocar doenças nos seres humanos, quando consumidos por muito tempo. As carnes e ovos orgânicos são muito mais saudáveis, os animais são criados soltos, de uma maneira natural, como fizemos durante 10 mil anos.

Alimentos industrializados orgânicos
Embora sofram processo de industrialização, ainda assim os alimentos orgânicos processados são mais saudáveis do que os convencionais porque não é permitido o uso de conservantes, corantes e emulsificantes de origem artificial. Todo o processo é inspecionado até o momento final, de empacotamento. Só desta maneira a utilização do selo de orgânico é permitido.

Orgânicos – desafios

Com tantas vantagens, por que então as pessoas não se alimentam apenas com produtos orgânicos? Os principais motivos alegados são preço, dificuldade em encontrar, pouca variedade e a confiabilidade de que aqueles alimentos são realmente orgânicos. Vamos falar sobre cada um deles.

Preço – realmente os alimentos orgânicos, em muitos casos, têm um custo mais elevado para o consumidor. O que pouca gente sabe é que o grande “gap” do preço está no intermediário, e não no produtor. Uma boa maneira de contornar esse problema é comprar diretamente do produtor. Existem vários sites na internet que oferecem esse tipo de serviço.
Outro dado importante é que os agrotóxicos são subsidiados pelo governo. Por incrível que pareça, eles têm uma menor carga tributária do que os implementos utilizados na agricultura orgânica. Isto se deve à política fundiária do Brasil.
Além disso, recomendo aos meus pacientes que no seu orçamento doméstico coloquem no item saúde os gastos com alimentação, médico e farmácia, e logo perceberão a economia que estão fazendo com estes dois últimos ao comprar os orgânicos.

Falta de variedade – apesar dos avanços da agricultura orgânica,ainda sentimos falta de muitos alimentos. Um dos fatores causadores é a aplicação do princípio do respeito ao ciclo da natureza. Não se colhe alimentos fora da estação. Outro fator é o surgimento de determinadas pragas. Neste caso, como não há a aplicação de produtos químicos para o combate a doenças, muitas lavouras são perdidas por alguma infestação. É uma questão de consciência. Você prefere consumir algo com produto químico ou não comer? E, por último, ainda existem poucos produtores no Brasil, e por isso a oferta não consegue se equilibrar à demanda. São os desafios enfrentados por este modelo. Felizmente, graças à conscientização e à procura, temos cada vez mais produtores e até nas grandes redes de supermercados encontramos áreas maiores de produtos orgânicos.
Confiabilidade – a última pergunta é: podemos confiar que aquele alimento é realmente orgânico? Depende. Para o alimento ser reconhecidamente orgânico ele dever ter o selo Orgânicos do Brasil, emitido pelo Ministério da Agricultura, e, preferencialmente, o de uma Certificadora Independente (certificação por auditoria). O produtor, para conseguir esse selo, tem todo o processo de produção auditado regularmente. As certificadoras fazem, além de visitas regulares, inspeções surpresas e caso algo esteja fora das normas a licença pode ser cancelada. Existe também a certificação participativa, em que um grupo de produtores se reúne em modelo de cooperativa ou associação para auditar um ao outro. Neste caso, os alimentos não podem ser exportados. Pessoalmente, não acredito neste modelo.

organico

“Só depois da última árvore derrubada, do último peixe morto, o homem irá perceber que dinheiro não se come” (provérbio indígena).

O QUE TEM NO ALIMENTO CONVENCIONAL QUE OFERECE RISCO À SUA SAÚDE?

O avanço do homem na química moderna proporcionou um aumento da produtividade no campo. Alimentos que ficam prontos em poucos segundos, o ovo que não gruda na frigideira etc. Mas, o preço pago pelo avanço pode ser cobrado pela própria saúde. Estas substâncias, na forma de toxinas, vão poluindo nosso corpo, permanecendo por anos e provocando danos à nossa saúde, assim como à de nossos descendentes.

XENOBIÓTICOS

Os Xenobióticos, por definição, são substâncias estranhas à vida (do grego, xenos = estranho; biótico = vida). Eles são compostos químicos estranhos a um organismo ou sistema biológico. Quando uma substancia sem nenhum valor nutricional, que não é normalmente produzida, é encontrada no organismo, é chamada de xenobiótica. Essas substâncias podem ter origem química industrial ou origem natural quando são produzidas por outras espécies, por exemplo, um veneno de cobra. O que preocupa é a imensa quantidade de novos produtos químicos que são diariamente produzidos de maneira artificial pelo homem. Muitos destes compostos já começam a se acumular quando ainda no ambiente intrauterino, e alguns ficam no organismo por mais de 30 anos. A frequência, a concentração e a composição química dessas substâncias irão determinar o tipo e o grau de intoxicação no homem. Ficar doente ou não irá depender de nossa capacidade de limpeza, o que chamamos de desintoxicação.

Alguns dos xenobióticos são difíceis de ser degradados e são chamados de organopersistentes. Ao mecanismo de acúmulo dessas substâncias nos seres vivos chamamos de bioacumulação, e ainda existe um mecanismo mais cruel que é o de biomagnificação. Durante a progressão da cadeia alimentar, ou seja, quando um animal come sua presa, estas substâncias vão passando por um processo de concentração, aumentando sua carga tóxica.

Imagine um lago ou um rio contaminado; nas algas encontraremos uma pequena quantidade de veneno. Nos peixes pequenos, esta concentração aumenta. Se formos avaliar o veneno em um peixe maior, a concentração cresce exponencialmente, e se esse peixe é comido, por um outro, a concentração é maior ainda, chegando a aumentar milhões de vezes. A esse processo chamamos de biomagnificação. Em suma, quanto maior o peixe, maior a probabilidade de estar mais contaminado.
E o homem é quem vai comer este peixe. Ele contamina o meio ambiente e se contamina. A doença é apenas o fruto de sua própria escolha.

XENOESTRÓGENOS E INFERTILIDADE

Dentre os xenobióticos, sob o ponto de vista da fertilidade, iremos abordar em especial os xenoestrógenos. A palavra é derivada do grego (xeno, que significa estranho, estro, desejo sexual, e gene, que significa “gerar” sendo seu significado literal “estrogênio estranho”). Xenoestrógenos também são chamados “hormônios ambientais” ou “EDC” – Desreguladores Endócrinos Compostos. Atualmente existe um consenso de que os xenoestrógenos se constituem como o grupo de poluentes com maior risco ambiental por possuírem efeitosque ameaçam o sistema hormonal, afetando a reprodutividade, provocando malformações e até alterações comportamentais.

Alguns dos xenoestrógenos têm origem na natureza, como os fitoestrogênios, que são substâncias estrogênicas produzidas pelas plantas. Apesar de serem naturais para as plantas, possuem diferenças estruturais que as diferenciam dos estrogênios humanos.Embora existam controvérsias quanto ao possível efeito destas substâncias, a prudência sugere que devam ser ingeridas com cautela e com orientação médica.

Alimentos ricos em fitoestrógenos, como a soja, devem ser consumidos também com cautela, pois além de grande parte produzida atualmente ser de origem transgênica, há controvérsias quanto aos efeitos da sua utilização em larga escala na alimentação.

Outro fato a considerar é que muitas plantas fabricam xenoestrógenos como forma de proteção, com a finalidade de impedir a reprodução dos insetos. De qualquer maneira, o grupo de xenoestrógenos que mais nos preocupa é o dos produzidos pelo homem, ou seja de origem industrial. Eles começaram a ser fabricados em meados do século passado. Um exemplo é pílula anticoncepcional, que só deve ser utilizada sob orientação médica. Uma enorme gama de produtos industrializados, ao serem ingeridos, inalados ou em simples contato com a pele, pode ter uma ação similar à dos hormônios, desregulando as funções endócrinas do corpo e contribuindo para a infertilidade em ambos os sexos.

Estudos indicam que a queda do nível e da qualidade dos espermatozoides em homens pode ser devida à exposição a xenoestrógenos ainda no útero materno. Ou seja, o meio ambiente intrauterino pode determinar
de forma definitiva qual será a capacidade reprodutiva da criança que está sendo gerada. A hipospádia é um dos defeitos de nascimento cada vez mais comuns da genitália masculina. Nela, o meato urinário fica localizado na face ventral do pênis, dificultando a reprodução e até mesmo podendo impedir de urinar em pé. Há evidências de que a incidência de hipospádias no mundo tem crescido nas últimas décadas. Nos Estados Unidos, dois estudos relataram que seu aparecimento cresceu de cerca de um em cada em cada 250 meninos na década de 1970 para um em cada 125 nascimentos na década de 1990 – ou seja, dobrou. Sabemos que a migração do meato uretral depende da carga de hormônios masculinos que o bebe recebe dentro do útero materno. O que se imagina que esteja ocorrendo é que os xenoestrógenos estão alterando o balanço entre os hormônios masculinos e femininos, mexendo com a capacidade de masculinização dos fetos.
Outro efeito potencial de xenoestrógenos está em onco-genes, especificamente em relação ao câncer de mama e de próstata. Assim como as malformações, o crescimento do número de casos do câncer de mama e de próstata e de hormônios dependentes está provavelmente ligado a xenoestrógenos.
Uma pequena lista de xenoestrógenos mais comuns:

• 4-Metilbenziliden canfor (4-MBC) (loções de bloqueadores solares)
• Hidroxianisolbutilado / BHA (conservante alimentício)
• Atrazina (Agrotóxico)
• Bisfenol A (monômero dos plásticos de policarbonato e resinas epóxi),
presente em mamadeiras
• DDT (agrotóxico)
• Diclorodifenildicloroetileno (um dos produtos resultantes da decomposição
do DDT)
• Dieldrín (agrotóxico)
• Endosulfano (agrotóxico)
• FD&C Red No. 3 (corante alimentar)
• Etinilestradiol (pílula contraconceptiva oral)
• Heptaclor (agrotóxico)
• Lindano/hexaclorociclohexano (agrotóxico)
• Metaloestrógenos (metais tóxicos)
• Metoxiclor (agrotóxico)
• Bifenilospoliclorados/PCBs (lubrificantes, adesivos, pinturas)
• Parabenos (loções)
• Fenosulfotiazina (corante vermelho)
• Ftalatos (plásticos moles, tipo filmes)
• DEHP (plastificante para PVC)

A IMPORTÂNCIA DO MEIO AMBIENTE ADQUADO PARA MÃES E BEBÊS

O ambiente intrauterino e o meio ambiente (moradia, quarto onde o bebê dorme, contato com a natureza, ar puro, consumo de água livre de impurezas, alimentação o mais natural possível) são fatores importantíssimos no desenvolvimento saudável de uma criança. Cuidados simples como o de tomar sol em horário adequado e com proteção, por exemplo, podem evitar danos à saúde. Recentes pesquisas indicam que, assim como as plantas precisam do sol, a mãe também deve ficar exposta a ele, em especial no último trimestre de gravidez. Nossa pele exposta ao sol transforma o colesterol em vitamina D. A carência de vitamina D predispõe o bebê à esquizofrenia.

AMBIENTE INTRAUTERINO – O PRIMEIRO MEIO AMBIENTE DE UM SER

O útero materno é nosso primeiro lar. Como pediatra há quase 30 anos, sendo produtor de alimentos orgânicos, e após acompanhar vários bebês desde o preparo para a gestação até a vida adulta, fica claro a importância do ambiente intrauterino, que deve ser preparado como o local em que plantamos nossos alimentos. Ele deve estar limpo e isento de venenos. Da mesma maneira que equilibramos a terra com os nutrientes para ter uma planta saudável, a qualidade dos nutrientes fornecidos para o bebê durante a gestação e nos primeiros anos de vida será fundamental para definir o desenvolvimento da sua saúde física e mental. O útero representa o universo do bebê. Lá ele passará longos nove meses, período em que a carência de nutrientes ou a presença de produtos químicos que chamamos de xenobióticos podem ser vitais.

Infelizmente, muitos pais ainda ignoram esse fato. Enquanto estão preocupados com o quarto em que receberão o bebê quando nascer, desconhecem a importância de “limpar” o ambiente em que ele está vivendo naquele momento. Aliás, o quarto tem sua importância. Como lá ele passará muito tempo, deverá ser projetado da forma mais “limpa” possível de poluentes químicos, com ventilação adequada, tinta atóxica e materiais naturais. Até mesmo determinadas plantas que ajudam a despoluir o ar são bem-vindas. Mas nesse momento nossa prioridade é outra. Durante o processo de gestação, os genes já começam a ser modulados pelo ambiente. Explicando melhor, os genes são como o hardware de um computador, eles podem ser programados de formas diferentes para se tornarem mais ou menos ativos. Chamamos este mecanismo de modulação gênica, ou simplesmente “tendência”. O importante é saber que o meio em que vivemos, assim como os alimentos que comemos, podem ligar ou desligar genes, total ou parcialmente.

O EFEITO DA PRESENÇA DE PRODUTOS TÓXICOS NA SAÚDE DOS BEBÊS

Estudos realizados em Cincinnati, Ohio, nos Estados Unidos, indicam que meninas expostas a níveis mais elevados de bisfenol A (BPA) antes do nascimento, ou seja, dentro do útero, apresentaram mais problemas de comportamento e estavam mais ansiosas e hiperativas do que as que estiveram expostas a pequenas quantidades deste produto químico. A substância é usada para fazer plásticos e encontrada em embalagens de
alimentos, produtos enlatados e até em mamadeiras. Obviamente o ideal é a exclusão desse tipo produto no nosso meio, e felizmente ele vem tendo seu uso restrito. Porém, o Bisphenol é apenas uma das milhares de substâncias químicas com que temos contato.

No parto, estudos comprovam que, nos poucos segundos em que o bebê passa pelo ambiente vaginal, o contato com a sua flora influenciará de forma benéfica o seu sistema imunológico. Após o nascimento, sem dúvida alguma o leite materno será o alimento mais saudável para o bebê. Porém, ele também é um meio de excreção de toxinas e por isso infelizmente pode estar repleto de substâncias químicas como agrotóxicos. Portanto, quanto mais precoce for iniciado um processo de limpeza e desintoxicação na mãe, melhor será a qualidade do leite materno, assim como do ambiente intrauterino.

Em 2010, um artigo publicado na revista Pediatrics, a mais importante e tradicional revista científica de pediatria do mundo, estudou a relação de pesticidas e distúrbios de comportamento. Foi comprovada uma ligação entre a exposição a pesticidas e a presença de sintomas de transtorno de déficit de atenção com hiperatividade. Foram avaliados os níveis de pesticidas da urina de 1.139 crianças, e os autores concluíram que a exposição a pesticidas organofosforados, mesmo em níveis considerados “normais”, pode contribuir para o aparecimento do TDAH.
Fica aqui mais um alerta: nenhuma doença genética tem caráter endêmico, ou seja, sua incidência não aumenta, portanto, em todas as doenças, desde as mais simples como alergias, stress e hiperatividade até infertilidade, doenças autoimunes, autismo e o câncer, quando existe um aumento da incidência, existe um ou provavelmente vários fatores ambientais envolvidos.

A multicausabilidade dessas doenças dificulta determinar os agentes. Mas existe uma clara relação entre as expansões das fronteiras agrícolas com o aumento da incidência de determinadas doenças em trabalhadores do campo, como leucemia em crianças que viveram em plantações de soja e arroz na Argentina e depressão e suicídios nas do Rio Grande do Sul.

A ÁGUA

Recentemente, o coordenador do CNRH (Conselho Nacional de Recursos Hídricos) admitiu que a água que consumimos não tem a qualidade adequada para consumo humano e que o tratamento atual apresenta falhas.
Além disso, existe uma tendência em aumentar a quantidade de micropoluentes, se nada for feito. Infelizmente, a sociedade emergente vem também criando um nova gama de micropoluentes emergentes oriundos de medicamentos, drogas ilícitas, produtos de beleza, higiene pessoal e limpeza, aditivos industriais, aditivos de gasolina e agrotóxicos. As técnicas atuais de tratamento de água, embora mantenham a maioria dos micro-organismos patogênicos e materiais particulados grandes, não eliminam nanopartículas, porções de material de apenas alguns átomos de tamanho, com propriedades muito diferentes do mesmo material em grandes quantidades. Estas pequenas partículas podem causar desde distúrbios leves de comportamento, como hiperatividade, até graves, como depressão. Além disso, uma gama enorme desses poluentes com características químicas que simulam efeitos hormonais está ligada ao aumento dos casos de infertilidade e câncer, além de distúrbios metabólicos e endócrinos.

O setor agrícola é disparado o setor que mais consome água. Uma pessoa adulta precisa de 4 litros de água por dia para beber, mas para produzir seu alimento diário são necessários de 2 a 5 mil litros. Cerca de 70% dos recursos hídricos disponíveis atualmente são destinados à irrigação, contra apenas 20% para a indústria e menos de 10% para abastecimento da população (higiene e consumo direto). “Se a agricultura conseguir aumentar a produtividade da água, a pressão sobre os preciosos recursos hídricos pode ser reduzida, e a água seria liberada para outros setores”, afirma Kenji Yoshinaga, diretor da Organização para Agricultura e Alimentação (FAO), agência das Nações Unidas (ONU).

Como a maioria do plantio é feita de forma convencional, é gerada uma grande quantidade de resíduos químicos na água. Já na produção de alimentos orgânicos, toda a água utilizada é monitorada desde a sua origem. Além disso, são utilizadas técnicas como o gotejamento, o plantio combinado de espécies e o reaproveitamento, que permitem a redução do consumo de água.

A ÁGUA E A FERTILIDADE

Um estudo comparou peixes do mesmo rio. Alguns estavam localizados acima da estação de tratamento de água residual, e outros, abaixo. No grupo que estava localizado abaixo, foram encontradas mais alterações na capacidade reprodutiva tanto de machos como de fêmeas, além de alterações anatômicas e graus variáveis de hermafroditismo.

xenoestrógenos têm a capacidade de alterar o desenvolvimento dos órgãos sexuais tanto de machos como de fêmeas em qualquer espécie. Assim como nos peixes, no homem as concentrações de esperma e sua qualidade vêm sendo reduzidas de forma dramática. Além disso, xenoestrógenos têm levado a grandes quantidades de intersexualidade em peixes, chegando em alguns casos a até 50%. Embora o Ministério do Meio Ambiente tenha iniciado um programa de pesquisas para melhorar a qualidade da água, eu recomendo que instale em sua casa um bom filtro e somente use água filtrada no preparo dos alimentos. Se possível, instale também filtro no chuveiro.

Nenhum agrotóxico é absolutamente seguro, portanto, vou me abster de citar uma lista de enorme de substâncias cujos efeitos mais comuns podem facilmente ser pesquisados na internet. Creio que o mais importante é citar que o Brasil infelizmente é o campeão mundial de consumo desses venenos, muitos deles proibidos em outros países. Não vejo outra justificativa plausível a não ser a manutenção dos lucros dos produtores. Mas a pior noticia é que os produtores de agrotóxicos estimam um aumento de consumo de 20% a 30% no próximo ano. Cabe a nós, em nome da nossa saúde, de nossos filhos e netos, mudarmos essas estatísticas.

NÃO EXISTE DOSE SEGURA PARA AGROTÓXICOS!

As informações contidas neste site têm caráter informativo e educacional e, de nenhuma forma devem ser utilizadas para auto-diagnóstico, auto-tratamento e auto-medicação. Quando houver dúvidas, um médico deverá ser consultado. Somente ele está habilitado para praticar o ato médico, conforme recomendação do CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA.